Profunda Simplicidade - O princípio da escolha
"Se você está com a saúde abalada, pode remediá-la.
Se seus relacionamentos pessoais são insatisfatórios,
você pode torná-los melhores. Se você está na miséria ,
poderá ver-se rodeado pela abundância... Todos vocês,
independentemente da posição, do status, das circuns-
tâncias ou das condições físicas, estão no controle de
suas próprias experiências."
Seth
A noção de que todas as pessoas escolhem as próprias vidas parece ter-se originado em vários lugares, independentemente uns dos outros. Por exemplo:
Axioma X: Só você tem responsabilidade sobre sua evolução pessoal.
Arica
Você é deus em seu universo.
Você causou.
Você fingiu não tê-lo causado para que pudesse brincar ali.
E você pode se lembrar de tê-lo causado, toda vez que quiser.
Werner Erhard
Somente você mesmo pode ser seu próprio libertador.
Wilhem Reich
... é a própria pessoa que determina, na maioria dos casos, se os acontecimentos de sua própria vida continuarão ou não existindo.
Fritz Perls
Até mesmo Shakespeare indicou a existência deste conceito em The Tempest: "O que passou é um prólogo; o que está por vir (é) sua e minha imputação".
Cada versão deste princípio difere um pouco dos demais. A seguir, exporei minha visão pessoal da questão.
Escolho tudo o que faz parte de minha vida e sempre o fiz. Escolho meu comportamento, meus sentimentos, meus pensamentos, minhas enfermidades, meu corpo, minhas reações, minha espontaneidade, minha morte.
De algumas destas escolhas, escolho tomar consciência, e de algumas outras, escolho não tomar consciência. Geralmente opto por não perceber sentimentos com os quais não quero me confrontar, pensamentos que são inaceitáveis, e algumas das relações de causa-e-efeito entre determinados eventos.
O que tem sido denominado inconsciente fica, com esta formulação, desmistificado. Escolho até isso. Meu inconsciente é, simplesmente, todas aquelas coisas das quais escolho não tomar consciência.
Não existem incidentes. Os acontecimentos ocorrem porque escolhemos sua ocorrência. Nem sempre estamos conscientes de os estarmos escolhendo.
Uma vez que aceitamos a responsabilidade pela escolha de nossas vidas, tudo fica diferente. Temos poder. Decidimos. Estamos no controle.
Se eu aceitar o conceito de escolha, devo dar uma interpretação diferente a muitos dos principais conceitos vigentes nos grupos de encontro e nas psicoterapias, conceitos tais como pressão de grupo, manipulação, uso das outras pessoas, lavagem cerebral, bode expiatório e masturbação mental. Todos esses termos implicam que alguma coisa está sendo feita a mim quando, de fato, eu estou consentindo que algo seja feito a mim. Uso tais expressões para responsabilizar outras pessoas por algo que eu faço comigo.
Suponhamos, por exemplo, que defendo uma determinada crença enquanto membro de um grupo. Para minha infelicidade, descubro que todos os demais participantes do grupo discordam de mim. Depois de muitas "armadilhas", "coerções" e "encurraladas", o grupo "me quebra ao meio" e me força a mudar de opinião.
De volta ao aconchego de meu lar, noto que ainda me sinto do mesmo modo que antes. Começo a perceber o que foi feito comigo. Esse grupo fez uma lavagem cerebral em mim! Eles me forçaram a mudar minha opinião! O líder aproveitou-se irresponsavelmente de sua autoridade e me dominou por completo!
Se eu assim o decidir, posso contentar-me com essa explicação e posso até mesmo tornar-me um crítico indignado da "tirania dos grupos". Posso inclusive vincular minha experiência à lavagem cerebral dos chineses e redigir um artigo no qual exija que o comitê de ética suprima esse comportamento inaceitável.
Porém, no caso de eu aceitar o princípio da escolha, eu iria adiante e reconheceria que eles não mudaram minha opinião; eu o fiz. O máximo que eles fizeram foi dizer e fazer coisas. Eu interpretei o que fizeram e disseram como sendo pressão do grupo. Eu atribuí ao líder sua autoridade. Eu aceitei as projeções do grupo como pertinentes ao meu caso. Os participantes do grupo podem ter tido a intenção de mudar minha opinião, mas eu tive que consentir com isso para que acontecesse.
Quando chego a essa percepção, cresço no entendimento de mim mesmo e beneficio-me desta experiência. O que é que há em termos de falta de segurança, de falta de estabilidade, de falta de eixo, de necessidade de ser aceito, que me faz mudar minha opinião quando, na realidade, eu não penso de modo diferente?
Quando investigo minhas próprias incertezas, dou-me conta de ter recebido um presente do grupo. Nele foram criadas circunstâncias que usei para descobrir minhas próprias certezas e seguranças a respeito de minhas crenças, para constatar o quanto é importante para mim ser quer!do, o quanto posso resistir sem perceber, ou como sou fraco quanto àquilo em que acredito.
Enquanto líder de grupos de encontro ou terapia, minha ênfase não está em limitar aquilo que você tem permissão de fazer (não projete, não interprete, não analise, não fuja pela tangente, não critique). Estimulo-o a dizer o que for. Os que recebem os comentários têm, então, a oportunidade de usá-los para aprender mais coisas a respeito de si próprios.
Além de os grupos não me pressionarem, as coisas não me assustam. Posso dizer que sinto medo de uma pessoa, como você; ou de uma situação, como a de rejeição; ou de uma coisa, como aranhas. Mas, para ser consistente com o ponto de vista da escolha, não tenho realmente medo de nada disso à minha volta; tenho medo de minha incapacidade de lidar com você, com a rejeição, com as aranhas. Enquanto eu vir você como sendo a causa do meu medo, passo todo o meu tempo tentando mudar, criticar, evitar ou destruir você. Mas assim que vir que o medo existe em mim, posso trabalhar em cima da capacidade que tenho ou não de enfrentar o que me surge - e este é, sem dúvida, um trabalho muito proveitoso.
Existe tão-somente um medo: o medo de não ser capaz de dar conta - de minha própria incapacidade.
Suponhamos que eu tenha medo que você entre em meu consultório porque "você fala o tempo todo", "você ocupa todo o meu tempo", "eu nunca consigo fazer coisa alguma quando você está por perto", "você invade minha privacidade". É um horror ver você chegando.
Sinto horror de ver você se aproximando porque não me sinto capaz de lidar com você. Assim que eu aprender a lhe pedir que saia quando eu não quiser mais que você fique por perto, não sentirei mais horror diante de sua aproximação. Quando eu sinto que posso enfrentar essa situação, não sinto medo.
Texto retirado do livro "Profunda Simplicidade: Uma Nova Consciência do Eu Interior", de Will Schutz. Editora Ágora.
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