Responder à agressividade
Sarah, que é uma mulher muito bonita, acha-se feia... Por ser muito alta, a rua torna-se um inferno. Homens e mulheres se voltam para ela e ela pode ver seus olhares: “Você não é como nós”. Ela deduz: “Eu sou feia”. Ensino-a a arte da réplica.
Numa esquina, ela encontra dois homens. Um deles diz ao outro: “Com uma mulher assim, eu precisaria de uma escada!” Sarah se volta para ele e mergulha seu olhar no dele para, sem nenhuma animosidade, centrar-se nele: “Você se sente assim tão pequeno.'”
Ele a olha, fascinado. E, emocionado, responde: “Como sabe disso? Sou o mais baixo de uma família de cinco filhos e sempre sofri com isto.”
Os dois sorriem. Conto muitas vezes essa história verdadeira e invariavelmente o grupo fala em coro: “Casaram-se e tiveram muitos filhos.” Não, eles não se casaram, nem mesmo se reencontraram. Mas há, nessa espécie de troca, uma grande intimidade. Os dois se sentiram bem, reconhecidos e compreendidos. Trocaram quentes-doces e não frios-picantes. No entanto, a primeira frase era uma provocação. Para não se sentir ferido por alguém, basta não morder a isca e considerar as necessidades do pescador. É necessário para isso estar curado de suas feridas antigas, senão o outro terá uma boa chance de cutucá-Ias.
“OS CHACAIS SÃO GIRAFAS QUE TÊM PROBLEMAS DE LINGUAGEM”
Toda crítica, toda agressão é a expressão de uma necessidade não satisfeita, diz Marshall Rosenberg, orientador e conferencista. Em seus estágios sobre a comunicação não-violenta, ele usa recursos pedagógicos originais: suas marionetes representando um chacal e uma girafa se insultam e se falam. A linguagem do chacal é feita de críticas e manipulações, definições e julgamentos. A linguagem da girafa é a do coração. Ele escolheu a girafa como símbolo da comunicação não violenta porque é o animal que tem, proporcionalmente, o maior coração. A girafa arrisca mostrar sua vulnerabilidade e dividir seus sonhos; graças a seu longo pescoço ela pode elevar sua visão, o que lhe dá a possibilidade de prever o efeito de suas ações a longo prazo. A girafa escuta, exprime seus sentimentos, faz pedidos, tem empatia. Sabe afirmar-se e o faz com honestidade. Emblema da violência, o chacal está no jogo do poder. Ele etiqueta, julga, classifica, diagnostica e coloca exigências. Controla os outros jogando com seus sentimentos de culpa. Chacal e girafa são metáforas de nossas atitudes em relação aos outros. É, importante lembrar-se que o chacal procura sempre ter orelhas de girafa que possam ajudá-lo a decodificar o que ele tenta exprimir. Pois “os chacais são apenas girafas com problemas de linguagem”, repetimos.
Desde os anos setenta ouvimos: “Você é responsável pelo que sente”, “Ninguém pode obrigá-la a sentir o que quer que seja.” Fritz Perls foi o primeiro a ter essa idéia de que os outros não estão na origem de nossas emoções nem inversamente. Mas o conceito inicial derivou para uma voga de que “se você sente isso, é problema seu”, o que não passa de uma fuga da responsabilidade mútua. Nossos comportamentos influenciam as emoções dos outros, felizmente. Tome a si, então, sua parte da responsabilidade nas reações dos outros em relação a você. Entretanto, reformule sistematicamente as mensagens “você é”, que definem como você é, por mensagens que exprimam sentimentos suscitadas por comportamentos.
Dizem para você: “Você é completamente imbecil.” Responda, por exemplo, com “você está com raiva porque acha que eu não entendi o que você quis dizer-me”.
De maneira geral, assim que alguém lhe mandar uma mensagem acusadora, procure o fundo de verdade.
“Tenho impressão de que você não me ama mais”, diz Raymonde a René. Responder “é claro que sim” ou “bobagem!” bloqueia a comunicação e coloca a relação em perigo. O outro se sente incompreendido e você lhe confirma de certo modo que “não tem nada que possa fazer em relação a ele”, visto que não faz caso do que ele tenta exprimir, na verdade, desajeitadamente. Não seria a Fala abaixo mais tranquilizadora para Raymonde, que ouviria a verdade?
“Escuta, é verdade, há alguns dias que estou nervoso com você porque não sei o que fazer. Estou verdadeiramente com vontade de ir visitar meus pais, mas você não poderá vir comigo”.
RECONHECER SEUS ERROS, DESCULPAR-SE
Marthe esqueceu-se de dar parabéns ao fìlho no seu aniversário. Quando ele exprime sua frustração, ela exclama: “Você não vai criar um caso, vai'”. Recusa-se a se sentir culpada e nega então sua responsabilidade minimizando o incidente. Pedir desculpas pode ser muito difícil para pessoas pouco seguras de si mesmas. Elas têm a sensação de parecerem fracas.
Mostrar-se empática quer dizer: “Eu compreendo que você esteja com raiva...”; deixar um silêncio para permitir ao outro integrar esse reconhecimento dos sentimentos e acrescentar: “Desculpe-me por tê-lo magoado”.
Somente após ter entendi do e reconhecido a importância dos sentimentos do outro é que se pode exprimir as razões que nos levaram a ter tal comportamento. Para concluir, proponha a rep aração. Ao invés de levar flores no próximo encontro, sem dizer nada, pergunte: “Como posso reparar isso?”
Texto retirado do livro “Inteligência do Coração”, de Isabelle Filliozat, da Editora Campus. |